"São rosas, senhor! São rosas!" Os encantos de Leiria
Reza a lenda que foi do castelo de Leiria que saiu a rainha Dona Isabel com pão para distribuir pelos mais desfavorecidos. O rei D. Dinis, nada satisfeito por estas incursões da esposa, surpreendeu-a numa das suas saídas num frio dia de Janeiro. A rainha bem tentou disfarçar que levava algo, mas sem qualquer sucesso. Questionando o que levava no regaço, a rainha respondeu "São rosas, meu senhor! São rosas!". "Rosas em Janeiro?", devolveu D. Dinis, certo de que a ia apanhar na mentira. Para espanto de todos os presentes, quando a rainha abriu o regaço, todos os pães se transformaram em lindas rosas que caíram a seus pés.
Já eu, sem qualquer rosa no regaço, passeei descontraidamente pelo castelo de Leiria. A entrada tem um custo bastante acessível: 2.10€.
No topo da colina, o castelo de Leiria e, mais abaixo, a Torre Sineira.
Entrada do castelo, em cotovelo, tipicamente muçulmana em período medieval.
As estruturas sofreram diversos melhoramentos ao longo dos anos, tendo o mais recente sido em 2021, com a construção dos elevadores de acesso ao castelo e as obras de restauro da Igreja de Santa Maria da Pena.
Ao fundo a Torre dos Sinos que continha os sinos da Igreja de Santa Maria da Pena. Também conhecida por Torre Buçaqueira, indicando que poderia albergar os falcões usados pela realeza nas caçadas.
Ábside da recém restaurada Igreja de Santa Maria da Pena.
O castelo de Leiria teve uma enorme importância no processo de Reconquista levado a cabo por D. Afonso Henriques e foi no século XII, após a sua reconquista ao califado Almoada que foi erguida a igreja de Santa Maria da Pena.
Torre de menagem.
No entanto, foi D. Dinis o rei que mais tempo passou em Leiria. A ele devem-se as obras posteriores na Igreja de Santa Maria da Pena e a construção da imponente Torre de Menagem. Em 1300 o castelo e vila de Leiria foram por ele doados à rainha Dona Isabel para criação do seu herdeiro o rei D. Afonso IV.
Arcadas góticas dos Paços Novos.
Os Paços Novos ou Paços Reais foram construídos já no século XV, por D. João I. Estes contêm um espaço de salão nobre, vocacionado para sala de audiências das cortes; um espaço de cozinha, adega e dormitórios.
Baixa de Leiria, Praça Francisco Rodrigues Lobo.
Mercado de Sant'Ana.
Descendo do castelo e passeando pela cidade de Leiria, deixo-vos a sugestão de alguns pontos de passagem, como a Praça Francisco Rodrigues Lobo e o Mercado de Sant'Ana, nas fotografias acima, ou a Casa do Arco:
Do início do século XX, esta foi uma solução arquitectónica para aumentar o espaço habitacional destes dois edifícios.
Para além de visualmente lindíssimo quer pelos seus arcos, azulejos ou capitéis, fica na antiga zona judaica medieval da cidade de Leiria. É aqui, no que era o coração da judiaria medieval de Leiria, que se encontra a Igreja da Misericórdia, erguida onde seria a sinagoga desta comunidade judaica medieval, estabelecida fora de muralhas, desde o século XIII.
Vão também encontrar diversos marcos relativos ao Crime do Padre Amaro pela baixa de Leiria. Estes dizem respeito à Rota d'O Crime do Padre Amaro, sendo que muitos destes pontos serviram de inspiração a Eça de Queirós aquando a sua passagem por Leiria, enquanto Administrador do Concelho.
Sem fotografias para mostar, mas não menos bela, fica a sugestão da passagem pela Sé de Leiria, construída no século XVI.
Infelizmente não cheguei a tempo de visitar o Moinho de Papel, uma vez que durante a semana fecha às 17h. No entanto é uma visita que recomendo.
Moinho do Papel, rio Lis.
Na margem esquerda do Lis, data do século XIII e encontrava-se, na altura, mais afastado da malha urbana da cidade. Neste local, encontravam-se diversos lagares, pisões e moinhos de água, uma vez que há aqui um conjunto de pequenas cascatas. Inicialmente dedicado à moagem de cereais, foi, a partir do século XV, com D. João I, implantada a primeira indústria de papel conhecida em território nacional e provavelmente em todo o território Ibérico. "Este edifício teve um grande peso na economia medieval e moderna, aproveitando a energia hidráulica para o fabrico do papel e para a farinação."1
Esta zona das margens do Liz, com excelentes acessos pedonais, convida a uma paragem para apreciar a sua beleza natural e relaxar ao som da água das suas cascatas.
Fica aqui a minha sugestão de passeio. Para o castelo podem apanhar o elevador gratuito que fica junto ao estádio de Leiria (com parque de estacionamento gratuito) e ficam diretamente na entrada do castelo; ou podem fazer toda a zona da baixa de Leiria e apanhar o elevador vertical na Sé que vos deixará junto à Torre Sineira, tendo depois de subir até ao castelo o resto do caminho.
Fotos tiradas por mim, com e sem tripé.
Local: Leiria, Portugal
Fontes: sites CM Leiria e Visite Leiria
1 - https://www.cm-leiria.pt/areas-de-atividade/cultura/museus/moinho-do-papel/breve-historial